26.7.10

1961 - 2011 (50 anos depois do início da guerra colonial)

Em 2011, decorrerão cinquenta anos após 1961, «annus horribilis» para o regime de Salazar. Esse ano iniciou-se, em 21 de Janeiro, em La Guaira, Curaçao, com o começo da «operação Dulcineia», ou seja, com o assalto ao paquete “Santa Maria”, por um comando de oposicionistas portugueses e espanhóis do DRIL, dirigido pelo capitão Henrique Galvão, exilado no Brasil. Também exilado neste país, Humberto Delgado confirmou, no Rio de Janeiro, que era o responsável pela operação e, depois, Henrique Galvão decidiu entregar o paquete às autoridades brasileiras, encaminhando-o para o Recife. No mesmo mês de Janeiro, foi entretanto divulgado, em Portugal, o documento «Programa para a democratização da República», sendo todos os sessenta e dois signatários da oposição ao regime incriminados e muitos presos, em Maio de 1961.

Em 4 de Fevereiro deste ano, um grupo de independentistas angolanos tentaram assaltar a Casa de Reclusão Militar e outros objectivos, em Luanda, resultando da acção sete mortos entre as forças policiais e incontáveis vítimas entre os atacantes. Em 15 de Março, a partir da fronteira e da região dos Dembos, membros das tribos Bakong empreenderam uma insurreição que alastrou aos distritos de Luanda, Cuanza-norte, Malange, Uíge e Zaire, tendo sido massacrados dezenas de colonos brancos. Os acontecimentos relatados pela imprensa nacional e internacional causaram profunda emoção na opinião pública portuguesa, sendo atribuída a responsabilidade dessas acções à União dos Povos de Angola (UPA), de Holden Roberto.

Por outro lado, recém-fugido de Peniche, após onze anos de prisão, Álvaro Cunhal foi eleito secretário-geral do PCP, em Março de 1961, e orientou o partido para uma severa crítica ao «desvio à direita» que vigorava nesse partido desde 1956. Com o regresso de Álvaro Cunhal, voltou, não só a estratégia de desmantelamento do regime, através do «levantamento nacional», como triunfou a afirmação da hegemonia do PCP na luta contra a ditadura, enquanto organizador autónomo da luta de massas e na mobilização para uma futura insurreição popular.

A nível do governo, era derrotada a chamada «Abrilada», golpe de Estado palaciano liderado pelo ministro da Defesa Nacional, Júlio Botelho Moniz, que pretendera levar o Presidente da República, almirante Américo Tomás, a demitir Salazar. Este assumiu então a pasta da Defesa Nacional e, num importante discurso, afirmou que «andar rapidamente e em força» para Angola, era o objectivo que iria pôr à prova a capacidade de decisão do governo português. Em Novembro, na véspera de decorrerem as eleições de deputados da Assembleia Nacional, em que os candidatos da oposição em oito círculos do continente e no Funchal anunciaram a desistência, por falta de condições eleitoraism ocorreram confrontos com a polícia em Almada e em Lisboa, onde foi morto o operário Cândido Capilé.

Em 10 de Dezembro, ocorreu a «operação Vagô», organizada por Henrique Galvão. Tratou-se da tomada, em pleno voo, do avião da TAP, “Mouzinho de Albuquerque”, que fazia a linha Casablanca-Lisboa, por um comando, que incluía, entre outros resistentes ao regime ditatorial, Hermínio da Palma Inácio e Camilo Mortágua. No dia 18, a União Indiana ocupou Goa, Damão e Diu, chamados territórios da Índia portuguesa, quase sem resistência, embora Salazar tenha dado ordens para que esta se fizesse até ao último homem. Dez dias depois, Humberto Delgado entrou clandestinamente em Portugal, passando por Lisboa e dirigindo-se a Beja para comandar uma revolta militar que deveria eclodir no regimento de Infantaria 3 nesta cidade, mas foi derrotada à nascença.

Inicio aqui ( também em registo fotográfico) os 50 anos da guerra colonial, que ocorrerá no ano de 2011








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