21.11.15

Nuno Nunes- Ferreira | A memória da guerra colonial


Num momento em que a contestação à falta de liberdade em Angola, protagonizada pela greve da fome feita por Luaty Beirão e a coragem dos slogans escritos nas costas dos uniformes prisionais dos jovens presos no primeiro dia do julgamento, Nuno Nunes-Ferreira apresenta em Lisboa, desde 11 de Novembro, 40.º aniversário da Independência de Angola, na galeria Miguel Justino Contemporary Art, a exposição «A Cuca ajuda a Upa, a Nocal ajuda Portugal».
Trata-se de uma muito pertinente reflexão sobre o período e a acção das tropas portuguesas na guerra colonial, iniciada em 1961, confrontando-a e dialogando tanto com os soldados das tropas portuguesas como com os guerrilheiros dos movimentos de libertação.

Uma novíssima geração de artistas plásticos, nos quais se inclui Nuno Nunes-Ferreira, convoca o passado recente mais traumático de Portugal, escondido, ignorado, sublimado e alienado pelos ascendentes, pais e avós. É o que faz Nuno Nunes-Ferreira, ao tomar a iniciativa de procurar os vestígios do passado, resgatando a memória, por trás do esquecimento voluntário.
Baseando o seu processo de pesquisa nas próprias memórias familiares (o seu pai fez comissões militares em Angola, só iniciando depois os seus estudos em Medicina), Nuno Nunes-Ferreira contextualiza com rigor todas as imagens, fotografias e textos, transformando-as depois em composições formais e, na minha opinião de espectadora, em excelentes obras plásticas.
Mas vamos ao seu processo de “arquivista metódico e compulsivo” como lhe chama João Silvério, curador da Exposição, no texto introdutório de «A Cuca ajuda a UPA, a Nocal ajuda Portugal»


«Fazer o retrato», «Pai», «Desejais ficar bem na fotografia?», «Olhos nos olhos» e «vestir a pele».
Questões de identidade sempre presentes, como quem questiona olhos nos olhos os duzentos homens que em imagens tipo-passe e possivelmente com a mesma farda se interrogam: “Porque temos de ir, ou por que vamos?”
A quem prestavam «vassalagem»? «Vassalagem» cega ao orgulho colonial?


Do «Território» ocupado por soldados imberbes que quase não sabiam ler e escrever?
E depois as casernas, os banhos, as brincadeiras homoeróticas, os jogos de poder e salão em momentos de lazer, o reverso da guerra, um mundo de homens sem mulheres.

«Tudo pela Nação» e o cuspo dos mortos em selos do império a chegar às mãos das mulheres, mães, amantes, prometidas e madrinhas que nunca viram. O cuspo e o escarro do poder
Em metal, o picotado, para partir ao meio e acompanhar o cadáver. Aqui a bolacha veio inteira, o homem não.
«1344 dias»  E folhear, folhear, folhear, «Desertar», «Que repousem unidos na paz os que unidos lutaram na guerra»

Baú azul n.º 6 para Portugal via Lobito. Encosto o ouvido e num lamento quase choro, o hino de «Angola é nossa». Era o retorno de quem nada tinha e nada teve. 
Caixão ?


















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