Os autores da série, que tiveram o cuidado de mostrar filmes dos dois campos beligerantes, optaram por manter a montagem original e a voz off originais, sendo apenas cada capítulo introduzido pelo historiador Julián Casanova. Embora os filmes sejam de propaganda, realizados tanto pelo campo republicano e das Esquerdas, como pelo do Exército sublevado e golpista de Franco, da Falange, das Direitas reaccionárias e da Igreja católica, retratam o ambiente, a vida quotidiana, as classes sociais, as campanhas da guerra, bem como a luta política, social e religiosa…
O que me espantou foi o enorme entusiasmo revolucionário, a pulsão libertária, emancipatória e igualitária que se vislumbra do lado republicano. É que tenho de confessar. Mais uma vez, não resisti em tomar partido. Despindo o hábito de historiadora com que assisti de forma interessada a todos os filmes, fossem realizados pelos franquistas, pelos comunistas ou pelos anarquistas da FAI/CNT, tenho que dizer que a minha simpatia foi de novo para um dos campos. É que se as tropas sublevadas comandadas por Franco ganharam a guerra, aliás com o apoio nazi-fascista, e derrubaram o regime republicano eleito, a hegemonia cultural, ideológica e até moral ficou do lado dos derrotados. Devo de facto confessar que vibrei com os hinos do campo republicano e a repetição sem fim da Internacional (que conhecia, desde os anos 60, de um disco em vinil da Chants du Monde). Ainda hoje gosto desses hinos, que não deixei de trautear involuntariamente, embora reconheça que o hino da Falange, Cara al Sol, também é bonito.
Confesso que, mesmo esteticamente, não por acaso, acho os jovens, as mulheres e homens do lado republicano mais bonitos e elegantes, apesar da pobreza do vestuário e dos sapatos de pano bascos. Confesso que também me emocionei com a defesa de Madrid, a chegada das Brigadas Internacionais à capital espanhola, a partida de Barcelona da coluna Durruti e a campanha destes destacamentos libertários e anarquistas da FAI/CNT na frente de Aragão. E, embora reconhecendo que a violência existiu de ambos os campos e que o anti-comunismo e o ódio aos vermelhos de um dos lados era acompanhado pelo ódio anti-clerical e anti-burguês e anti-aristocrática do outro lado, revoltei-me com a propaganda franquista de Salamanca e Burgos e assisti com admiração à forma como eram tratados os abastecimentos na retaguarda de Barcelona, pelos proletários da CNT.
Não posso deixar de esquecer que a República espanhola, cujo governo da Frente Popular foi eleito, foi derrubada por uma parte do Exército através de um golpe de Estado e de uma tremenda guerra civil. Também não esqueço que, durante a guerra, foram fuzilados na retaguarda entre 120 e 150 mil pessoas, e entre 50 e 60 mil do lado republicano. Mas quando a guerra terminou, em 1939 (faz este ano 70 anos), os vitoriosos “nacionalistas” fuzilaram 50 mil derrotados, até 1945. Além disso, prenderam meio milhão de espanhóis e obrigaram à fuga do país de cerca de outro meio milhão (números e dados retirados do artigo «Eles e nós. A guerra civil de Espanha vista atrás da câmara, Público, P2, 7/11/2009, pp. 12-13).
Os 8 de capítulos da série intitulam-se: A República em Guerra; A Espanha Heróica; A Revolução Social; A Defesa de Madrid; Campos de Batalha e Política de Retaguarda; Uma Guerra Internacional; Resistir, Vencer; Até ao Final da Guerra e A Vitória.
E agora vou a correr para o Estoril, assistir a mais quatro episódios
(também aqui)